Hoje, ao chegar a casa mais cedo que o costume, encontrei o amigo de longa data, não das escolas que tem mais 5 anitos - uma enormidade, quase uma geração quando se é novito. Amadeu José Silva, o Amadeu, o Almadedeus, o gafanhão, sei lá quê mais. Bom amigo e marinheiro sofrido. Muito. Enquanto moçoilo teve uma paixão por uma belissima gafanhoa, com quem fez do sonho a sua vida. E lã vão, com mais de 40 anos de vida em comum, filhos, netos, chatices e alegrias mais que muitas.
O Amadeu, com o mar no sangue, não estudou, talvez porque à data preferisse os dinheiros frescos dos empregos rápidos. Fez-se à Escola de Pesca, em Pedrouços, para Marinheiros, onde os rapazes cresciam muitas das vezes à força de alguns tabefes. Não o transformaram em bicho , tão pouco em deliquente; Antes em marinheiro, que nos seus dezassete anos, vê alguns amigos e companheiros de labuta a morrer, no mar que lhes deveria dar a vida.
Em 4 anos de pesca do bacalhau, naufraga 3 vezes; Já cá o contei. Na primeira viagem, naufrago. Na segunda traz o navio, para na terceira e quarta naufragar de novo.
Era já comum ver o Amadeu a aparecer-nos de camisa grosseira aos quadrados, normalmente muito colorida, botas bacalhoeiras ( botas altas, de dobrar, que se usavam na pesca para protecção- Sapatos, era impossivel!- ) e olhar maroto, a oferecer cigarros americanos a toda a rua. E se contar 18 rapagões naquele largo, devo errar por defeito. Eram as mais das vezes, mais que isso.
Ainda hei-de contar o naufrágio em que morreram 6 tripulantes, onde andaram 37 pessoas numa balsa de 20 pessoas, onde na aflição e nos susto, ninguém ajudava ninguém. O Amadeu lembrou-se hoje de alguns factos desse dia. Alguns feios.....