terça-feira, junho 5

FARPAS

Desde que a ria de Aveiro se fechou à navegação e mesmo à renovação das suas águas, foram desenvolvidas várias acções para que fosse aberta novamente a sua saída para o Atlântico. Desde que tal aconteceu, entre finais do sec. XVI inicio do sec XVII, foi criado um imposto designado por “ real da água” que penalizava a venda do vinho. O imposto em causa, destinado à construção da Barra, que durante muito tempo foi cobrado e desencaminhado para outras funções, penalizava somente os miseráveis e os viajantes que matavam a sede nas tabernas da época, enquanto os seus produtores, sempre arranjavam maneira de lhe fugir. A ineficácia de quem era responsável por tal situação, provocou nas margens da nossa ria, fome, doenças, cheias, o abandono da pesca longínqua e um incentivo À pesca costeira, obrigando os povos das margens a procurar novos locais de pesca e muitas vezes, novos locais para criar os filhos, fazendo com que em muitos sítios do litoral, de Matosinhos a Vila Real de Santo António, aparecessem os embriões de muitas das cidades que hoje se encontram ao longo da costa portuguesa. Esses pequenos grupos de palheiros, muitas vezes só em caniço, abrigaram muitos dos antepassados de uma grande diáspora dos povos da ria, que espalharam no país os nossos costumes, tradições e gastronomia. O esforço dos responsáveis pelas povoações das margens da ria, que a dado momento se transformou num grande pântano pestilento, continuaram a sua pressão junto ao governo da Nação, e, a dado momento, o Rei D. José I, por provisão régia de 1751, determinou que o Eng. Húngaro Carlos Mardel, se deslocasse À nossa região para que examinasse a situação e fizesse a planta da obra. Infelizmente a sua permanência entre nós foi curta, por ter sido requisitado para reconstruir Lisboa, desbastada simultaneamente por um terramoto e um tsunami, no dia de Todos os Santos, em 1755. Carlos Mardel, que deixou na Lisboa pombalina uma obra de grande qualidade, bem visível ainda hoje, apesar de ter estado pouco tempo na nossa região, deixou bem definido o local onde iria surgir a barra que hoje nos serve, a cerca de meia légua a sul da Capela da Senhora das Areias, que se encontra bem graficada numa planta da região lagunar, elaborada ainda no sec. XVIII, pelos Engenheiros franceses François Polchet e Louis d’Alincourt. Como se pode ver, aquilo que acontecia na nossa região lagunar era uma grande preocupação, e como o governo central não decidia nada de concreto sobre o avanço das obras, o Capitão Mor de Ilhavo, João de Sousa Silveira, que residiu no Solar de Alqueidão, pediu ao Rei que lhe fosse autorizado fazer uma barra ( rigueirão) logo a sul da Vagueira, custeando ele próprio as obras e, depois de vários contratempos, num dia de grande tempestade em 8 de Dezembro de 1757 as águas da ria foram libertas para o mar abrindo-se logo uma foz do Rio Vouga, com cerca de 400 metros. A barra da Vagueira, apesar de resolver o problema momentâneo, não solucionou a longo prazo a situação e apesar de terem passado por cá outros intervenientes, só de 1802 a 1808 é que o engenheiro francês Oudinot e o seu genro Luís Gomes de Carvalho deram forma À solução de Mardel ,juntando algumas ideias novas, como por exemplo o desvio do Vouga para um novo leito que desaguava frente à sua nova foz artificial e o encerramento intermitente do canal de Mira por um dique e uma ponte/comporta de Cambeia. A nova barra demonstrou logo a sua utilidade, pois a dado momento, entraram por ela, no espaço9 de cinco quartos de hora,48 transportes ingleses, navegando em coluna dobrada, para apoio às tropas que na região centro combatiam a invasão napoleónica de 1809. Os trabalhos da barra foram continuando com avanços e recuos, mas só com a motorização dos navios e a construção de dois novos molhes se pode considerar que ela passou a ter uma certa segurança e a cumprir em pleno os fins para que foi construída. in jornal “ O ILHAVENSE”

3 comentários:

joao madail veiga disse...

as coisas que um assinante do "Ilahvense" sabe.
Tal qual como eu, assinante também, mas que vai lendo a necrologia e as cronicretas do meu amigo Jacob, engravatado e sempre politicamente correcto.

PS: Abarra é de Aveiro ou de Ilahvo, ou de Ilhavo/Aveiro como a barragem, que é de Crestuma/Lever.
( Ultimo campeonato nacional que ganhei foi alí, Crestuma/Lever)
Mas gosto maisda barra de Aveiro, Aveiro/Ilhavo, ILhavo.
Pois.

A VER NAVIOS disse...

Tamos juntos, pois.

garina do mar disse...

o Luís Gomes de Carvalho é o "homem da bota"?