sexta-feira, novembro 10

A PESCA NA GRONELANDIA 5

E a campanha prolonga-se até ao dia seis de Setembro, sempre com os mesmos perigos, os mesmos trabalhos, as mesmas saudades. Todavia, no dia seguinte, quando todas as panas estão atulhadas e no porão não cabe mais nada, quando já não há outro sitio onde salgar bacalhau, quando o convés está debaixo de água e o navio não tem posse para mais carga, o Capitão, depois de tudo bem acautelado – as escotilhas devidamente cobertas e pregadas e os botes piados com segurança – manda içar, bem a tope, no mastro da mezena, a bandeira nacional e escreve no «Diário de Bordo»: «Aos sete dias do mês de Setembro de mil novecentos e trinta e um, estando o lugre português «Santa Joana» ancorada no banco Lille Hellefisk, por ter completado o seu carregamento de bacalhau, foi dada por finda a campanha de pesca». Pelas seis horas o Capitão mandou virar a amarra, para seguir viagem para Portugal, com destino a Aveiro. Pelas sete horas fizemo-nos de vela, com todo o pano largo, ao rumo SE41/2S. «Deus nos leve a salvamento». Quando, nos princípios de Outubro, os quatro lugres, que pescaram nos bancos da Gronelândia, chegaram a Portugal e demandaram os seus portos de armamento, ouve grande alvoroço e muito regozijo entre as classes ligadas ás actividades piscatórias. É que, de todos os veleiros que, nesse ano de 1931, foram à pesca do bacalhau, apenas aqueles quatro conseguiram carregamentos completos
Em face destes resultados tão auspiciosos, imediatamente os restantes armadores resolveram mandar preparar os seus navios, para que a próxima campanha fosse exercida nos mares da Gronelândia. Daí em diante, os carregamentos foram sempre mais ou menos compensadores, o que fez com que esta industria – agora também orientada e grandemente auxiliada pelo Grémio dos Armadores – se tornasse maior, mais rica e mas progressiva. É bom pois, que não sejam esquecidos aqueles quatro arrojados Capitães e suas destemidas tripulações, bem como os armadores dos referidos navios, particularmente o gerente da empresa de pesca de Aveiro, senhor Egas da Silva Salgueiro que, com a sua grande visão e iniciativa, muito contribuiu para o incremento e prosperidade da Industria Bacalhoeira.

1 comentário:

Anónimo disse...

Fotogafias lindas e um texto maravilhoso do Sr. Dr. Amadeu Cachim.
Li com atenção toda a história.
Em 1931 foram os "Vasco da Gama" de outrora.
Muito deram a este pequenino Portugal.
É necessário aparecerem mais "homens" como estes para que Portugal saía da lama em que está!
Obrigado pelo documento fabuloso que contaste.