À tardinha, depois de muita procura, todos regressam ao lugre, uns quase vazios e outros com peixe à sarreta.
A bordo é uma tristeza! Já passou um mês e ainda não se pescaram trezentos quintais.
De noite, naquela longa noite, em que nada se ouvia a não ser os gemidos monótonos produzidos pela oscilação lenta do navio e o tic-tac do relógio de cobre, pendurado na antepara, por baixo do alboi, o Capitão não dormia.
Primeiramente, sentado na loca da Câmara, que um candeeiro de suspensão iluminava, com a sua luz amarelada e vacilante, falara com o piloto e com o contramestre; mas agora no seu camarote, muito sozinho, não conciliava o sono. Pensava, pensava sempre.
Aos louvados, já ele estava no convés, sem ter pregado olho.
Reuniu então toda a companha:
- Rapazes: aqui não fazemos nada.
É uma desgraça para nós e para os patrões!
Dizem que lá no Norte, na Gronelândia, há muita fartura de peixe.
Quereis ir até lá?
Os pescadores, receosos, entreolharam-se e nada disseram.
Mas, passado aquele momento de indecisão, um dos mais velhos quebrou o silêncio: o senhor Capitão tem mulher e filhos, como nós.
Leve-nos, portanto, para onde quiser, pois temos a certeza de que vamos para bem.
Leve-nos para qualquer sítio, onde haja bacalhau, porque foi para o pescar que deixámos, lá longe e com tantas saudades, as nossa terras e as nossa famílias.
Surgiu então no Diário de bordo, que tenho na minha frente, a seguinte passagem:«As dois dias do mês de Julho de 1931, estando o lugre «Santa Joana» ancorado no Virgin Rocks, a E do Main Ledg, como não houvesse peixe suficiente para o carregamento do navio, resolveu o Capitão suspender a amarra e seguir viagem para os bancos da Gronelândia.
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