Havendo por seu serviço, o muito católico e excelente Principe de Macinhata e Donatario das Terras do AltoVouga, D. Pardal I, Senhor que Deus tem em Sua glória junto a seus fiéis súbditos, mandar uma grande armada de uma nau, ao Reino dos Algarves,
muito além da Cristandade, que ardia indefeso dos calores sarracenos ,neste estio do ano da graça de nosso senhor , de dois mil e sete.
Despachou pois, D. Pardal I o seu Capitão, aparelhando este a nau, com todos os aprestos , mantimentos e homens de reconhecida valia, e muito estimados neste Principado. Embarcava também todos os outros necessarios a tão temerosa empresa.
Aparelhada a nau, decidiu o Capitão Mor, dar algum consolo ao corpinho, tendo para o efeito contratado alguns escravos livres, que o alimentaram a carne de bom bife fresco, e a boa cerveja do Reino, para com isto evitar comer às escondidas do Despenseiro Real, as sandochas de fiambre e queijo, tão bem resguardadas dos olhares ávidos da esfaimada tripulação; Após o que se deu preparo à partida, tendo largado às primeiras horas do dia, depois de ter recolhido os enormes cabos que as naus de hoje ostentam.
Passou donairosa a nau CELTANA , observando os movimentos das gentes do povo em Santa Catarina de Ribamar, que a vinham saudar, e rezar ao mesmo tempo que tão breve não voltasse,( tal era a saudade, e ainda a procissão ia no adro)rumo ao cabo da barra e ao forte de Santo Gião, que guardava imponente o velho burgo, a um tiro de peça da outra paça forte, que tem sido chamada de bugio.
Andou esta nau ora em calmarias, ora às voltas de um bordo a outro, por o vento se mudar muitas vezes, até que , algum tempo depois, passaram o promontório de Nossa Senhora do Espichel, sendo aí os mares tão empolados,que umas vezes não o viam, pelas grandes serras de água que entre o promontório e a nau se levantavam e outras vezes o viam para baixo, tão grande e tão alto a montanha de mar levantava a Nau CELTANA.
Durou esta tormenta todo aquele dia, e toda a noite, que houve alguns que se desejaram em Lisboa, e outros ainda dos mais esforçados, eram de parecer que arribassem a BAIONA, pelo grande risco que corriam;Porque andavam em mares tão cruzados, que para nenhuma parte punha a Nau a proa, que as ondas a não encontrassem.
Mas quis Nosso Senhor, que amainou logo o vento pela virtude dos AGNUS DEI e das várias reliquias do jantar que se deitaram para o mar.
No sábado de manhã, houveram vista de uma vela, pelo que foi grande a alegria, e determinados se armou a cozinha, mesmo ali no convés, e se fez café e sandes de manteiga, que o Capitão, cioso dos seus pertences, tinha escondido do escrivão mor, os mantimentos mais apetecidos, os melhores queijos e Fiambre do Pingo Doce.
Pela meridiana, foi posto novamente em alvoroço a tripulação, havendo de entre eles alguns já enjoados, outros só almareados, mas que rápidamente se viraram para os enjoamentos. Assim, quis o Senhor, que houvesse feijoada sem cor, que alimentou o corpo e a alma, o que o Senhor Capitão,a espaços,nos fazia o favor de comprovar.
Foi depois desta refeição Nosso Senhor servido dar bom vento, e tão bom era, que por demais a valorosa tripulação orava e jejuava, rogando ao Senhor que amainasse o mar e sossegasse o vento; Alguns Agnus Dei depois, e também após as já habituais oferendas ao mar, largamente declinadas no vomitómetro da popa, quis O Senhor que se chegasse ao promontório do Santuário de Sagres, lugar de peregrinação e onde sua Senhoria o Visconde da Boavista ia partindo a ancora de fundear à cabeçada, não fora a pronta intervenção de Mão de DEUS, ao desviar a cabeça para o cepo.
Ainda hoje, e por virtude deste facto, se comenta por aquelas bandas, que foi no enfiamento das pedras más e da beirada dos 5 metros, que sua senhoria partiu os cornos.
Deram em terra firme alguns dias depois, sempre em bonança, e aí saídos foram todos de joelhos, em procissão a Nossa Senhora de Portimão, fazendo apenas uma paragem para banhos, no solar de W.C.Senhoras,onde prostrados, deram graças por tantas benesses, e de tantos perigos e lixo se verem livres.